Se você fechar os olhos e imaginar os números de 1 a 9 sobre uma reta,
como seria a imagem formada em sua mente?
A maioria das pessoas dirá que imaginou uma linha horizontal,
com 1 na esquerda, e uma progressão ordenada até 9 para direita.
Naturalmente, esta estatística pode ser consequência da convenção cultural
em sociedades que usam números arábicos e que escrevem da esquerda para a direita,
mas pesquisas indicam que pode ser mais do que isso. Questões desta natureza fazem parte
do campo da cognição matemática (também conhecida como cognição numérica),
que procura estudar as características fundamentais na forma como os números
são representados no cérebro.
Foto: stock.xchng.
Se você pedir para que uma pessoa pressione uma tecla à esquerda
quando ela vir números maiores do que um certo número de referência,
e uma tecla à direita para números menores do que este mesmo número de referência,
um padrão interessante aparece, se comparado com a situação inversa.
Na média, os participantes de um tal experimento respondem mais rapidamente
com a tecla à esquerda para números menores e com a tecla à direita para números
maiores. Este efeito é conhecido como SNARC
(Spatial-Numerical Association of Response Codes) [Dehaene et al., 1993].
O resultado deste experimento tem sido interpretado como evidência
de que os números são codificados espacialmente no cérebro.
A codificação parece ser relativa: um mesmo número exibirá uma vantagem
para o lado esquerdo se ele é menor do que o número de referência em uma situação,
e uma vantagem para o lado direito se ele é maior do que um outro número de referência
em uma outra situação.
O efeito pode ser detectado mesmo quando os números são apresentados como palavras escritas,
sugerindo que ele é mediado por
representações abstratas, ao invés da forma visual particular dos estímulos
[Fias & Fischer, 2005].
Neste ponto, você pode estar pensando que o efeito SNARC tem algo a ver
com lateralização:
talvez o hemisfério esquerdo seja simplesmente melhor para números menores
e o hemisfério direito seja melhor para números maiores.
Além da dificuldade de associar essa noção com a codificação relativa
descrita anteriormente, [Dehaene et al., 1993] mostraram de forma convincente
que o efeito não é mera consequência de um processamento lento quando a informação
tem que atravessar o corpo caloso: quando participantes respondem com suas mãos
cruzadas, a vantagem do lado esquerdo para números menores ainda aparece,
mesmo que o participante passe a responder com a mão direita, e vice-versa.
Outros pesquisadores encontraram o efeito SNARC mesmo quando os participantes respondem
com uma única mão [Fias & Fischer, 2005].
O tema é amplo e novos aspectos, controvérsias e posições têm sido estabelecidos
na literatura científica.
Se você quiser saber mais sobre o assunto, [Fias & Fischer, 2005] é uma boa referência inicial.
Adaptação do texto The Mental Number Line escrito por Johan Carlin.
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